top of page

Peregrinação de fé: Hábitos da Geração Z geram debate sobre desconexão religiosa entre os mais jovens

Estudos indicam uma tendência crescente de afastamento da religiosidade entre os jovens, especialmente na faixa etária de 16 a 25 anos.

Por Isabella Bilard 

FOTO ISABELLA BILARD.png

Luís Victor já participou de diversas corridas ao longo de sua trajetória como corredor e, em várias ocasiões, foi contemplado com medalhas. | Foto: Isabella Bilard

Na manhã de outubro, Luís Victor da Silva Ferreira iniciou uma caminhada que transformaria sua vida por completo: uma jornada rumo a Aparecida, feita em promessa a um ente querido. “Eu estava treinando bastante e, como participo de corridas, essa foi uma motivação a mais para ir a pé até Aparecida. Decidi que era a hora de ver se conseguiria”, conta.

Para Luís, essa peregrinação foi uma experiência intensa de devoção e fé. “Houve momentos em que pensei que não conseguiria chegar. Mas com fé e dedicação, consegui alcançar o meu destino”, ressalta o jovem peregrino.

Durante o seu trajeto, Luís teve a oportunidade de conversar com muitos jovens e enfatizou que achou interessante conhecer as histórias de cada um, bem como os motivos que os levaram à essa caminhada. Contudo, essa interação o fez perceber que, apesar de alguns obstáculos, havia um desejo de se conectar com a espiritualidade, embora isso nem sempre se traduza em práticas religiosas consistentes.

    

Luís Victor, de 26 anos, refletiu sobre a desconexão que muitos jovens sentem em relação à religião. “Eu vejo que a galera mais nova não está entendendo a importância da fé. Muitos procuram a religião apenas em momentos que precisam, como pagar uma promessa. Senti que alguns vão pela maneira errada, enquanto outros realmente acreditam e buscam algo certo”, observa.

Como pensa a geração Z?

Essa percepção de que a geração mais jovem, especialmente entre 16 e 25 anos, se distancia da religiosidade é baseada em estudos que mostram uma queda crescente na participação de pessoas mais novas em práticas religiosas. 

Essa tendêcia não se limita apenas ao catolicismo, mas abrange uma ampla gama de tradições religiosas, incluindo comunidades evangélicas, islamismo, budismo, umbanda, espiritismo e dentre outros. Mas, afinal, o que explica esse afastamento e quais são suas implicações para a sociedade?


Em 2011, David Kinnaman, presidente do instituto de pesquisa Barna Group, liderou um projeto de cinco anos que investigou a desconexão. O estudo revelou que muitas comunidades religiosas podem ser superprotetoras, criando uma experiência cristã sufocante. Ademais, muitos jovens veem a vivência religiosa como superficial e sentem que a fé não é relevante.


Há também um desconforto com a oposição entre ciência e religião, além de uma abordagem crítica em relação à sexualidade. A exclusividade do cristianismo em uma sociedade cada dia mais pluralista e a ausência de um ambiente acolhedor também contribuem para esse afastamento.


Para o Prof. Dr. Moacir José dos Santos, a liberdade de escolha e o acesso à informação refletem este cenário. “A busca de liberdade de escolha e maior acesso à informação leva uma parcela dos jovens a se afastar da religião, formando convicções durante esse processo. Mas não é um grupo homogêneo; inclui desde agnósticos e ateus, até jovens que vivem a espiritualidade sem vínculo formal com uma instituição religiosa”, ressalta.

Redes sociais

Em 2023, durante a cerimônia de boas-vindas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa, o Papa Francisco dirigiu um apelo aos jovens sobre as “ilusões do virtual” e das redes sociais. O Pontífice destacou que nossos nomes e preferências são manipulados por algoritmos e advertiu sobre a presença de pessoas que, sob a aparência de bondade, podem não ter boas intenções. 

Nesse contexto, o Prof. Me. José Cardoso do Rêgo destaca que “o mundo virtual é fluído, tal qual a mente de um jovem nos dias de hoje”. Segundo ele, esse público está mais interessado no que acontece na palma da sua mão do que no que ocorre ao seu redor. No âmbito da espiritualidade, a individualidade e as novas ferramentas tecnológicas estão mudando o sentimento religioso. 

O professor argumenta que um dos principais desafios para as instituições religiosas é tornar as tradições mais atraentes e relevantes. Para isso, ele acredita que a teologia e os dogmas devem ser apresentados de forma moderna e acessível, facilitando o consumo rápido da mensagem religiosa.

Essas adaptações não significam que os grupos religiosos estejam errados. Na verdade, se os rituais e dogmas tradicionais não conectam com a juventude, é importante que essas instituições adaptem suas práticas e representações para manter o envolvimento, mesmo que isso aconteça no ambiente virtual.

Luís Victor, por exemplo, ao chegar no Santuário Nacional em Aparecida, sentiu a importância da fé – provando que a devoção vai da individualidade de cada alma. “Essa experiência me fez perceber que, apesar das dificuldades que a religião enfrenta, ainda existem muitas pessoas que buscam a reconexão com a fé”. 

© 2024 por alunos de Jornalismo do 4° semestre da Univerdade de Taubaté. Direitos Reservados

bottom of page